07 Novembro 2022
Decidi desativar minha conta no Twitter, depois de usá-la por quase 12 anos. Eu a consultava quase diariamente, muitas vezes até mais de uma vez por dia, para verificar as notícias, ler as opiniões de pessoas que estimo e me interessam e essencialmente para ter uma janela para o mundo, estar atualizado e em contato com as coisas que estão acontecendo. Sempre considerei que o Twitter fosse uma ferramenta importante, pelo menos para mim, não tanto para gorjear, mas para ouvir o gorjeio alheio.
A opinião é do teólogo italiano Vito Mancuso, ex-professor da Universidade San Raffaele de Milão e da Universidade de Pádua, em artigo publicado por La Stampa, 05-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A minha não foi uma escolha fácil. Lamento não ter mais oportunidade de dar a minha opinião de vez em quando, propondo alguma interpretação, alguma visão de mundo e, sobretudo, lamento não poder entrar em contato com as pessoas de quem eu era, como se diz, seguidor. Agi como já havia feito há muitos anos, quando saí da Mondadori, minha editora na época. Em 2010, Silvio Berlusconi era tanto chefe de governo como proprietário da Mondadori, e eu escrevia para a Repubblica. Pedi ao jornal que publicasse um artigo no qual eu comunicava minha decisão de deixar a editora, pois me incomodava terrivelmente que Berlusconi tivesse preparado uma de suas muitas leis ad personam para não abrir mão de nada. Hoje, no Twitter, sinto o mesmo desconforto, então o abandono. Estou bem ciente de que nada acontecerá, assim como nada aconteceu quando saí de Mondadori, embora muitos autores tenham manifestado o meu mesmo incômodo: deles, apenas o querido Dom Gallo fez imediatamente o que disse e, como eu, saiu da Mondadori. Ninguém vai sair do Twitter.
Isso provavelmente recobre minha vontade de irracionalidade, mas não mina minha convicção. Há sempre alguma irracionalidade na indignação: te leva a fazer coisas que comportam uma perda. No entanto, sinto não apenas que não posso me eximir, mas também que ganho muito seguindo um impulso interior. Ganho fidelidade a mim mesmo, é claro. E também ganho a certeza de que fiz algo contra a prepotência. Algo muito pequeno, mas fundamental: impedir que um prepotente exerça sua opressão sobre minha interioridade. E este é o sentido de meu fechamento da conta. Acho que cada um de nós pode, talvez até deva, impedir que os prepotentes dobrem sua consciência, sua mente. Elon Musk é um prepotente: isso é demonstrado pelo que ele está fazendo com os trabalhadores do Twitter e as políticas que promete adotar em breve para remodelar a rede social. Eu não quero ter nada a ver com isso. Sinto-me um pouco como Dom Quixote, mas também devo dizer que, de vez em quando, é bom e honroso lutar contra os moinhos de vento.
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Meu adeus ao Twitter, um gesto de rebelião contra Musk, o prepotente. Artigo de Vito Mancuso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU